Justiça fará nova audiência para esclarecer morte de ex-prefeito de Coronel Murta

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O não comparecimento de duas testemunhas de acusação à audiência de instrução e julgamento, realizada na tarde dessa terça-feira (22/3), em Araçuaí, vai provocar a convocação de uma nova audiência para tentar esclarecer o assassinato do então prefeito de Coronel Murta, no Vale do Jequitinhonha, Inácio Carlos Moura Murta. Segundo informações da Justiça, as testemunhas Diogo Santos Oliveira e outro homem identificado como Idaelson, não foram localizadas.

O juiz Carlos Juncken Rodrigues, que preside o caso, disse que o Ministério Público tem 10 dias para fornecer o endereço delas ou substituir as testemunhas, caso elas não sejam encontradas. A partir daí, será marcada uma nova audiência.

A audiência desta terça-feira (22) teve início às 16 horas e durou duas horas. Foram ouvidas quatro testemunhas de acusação, entre elas, a viúva do ex-prefeito e a mulher do caseiro da fazenda do político. Duas testemunhas de defesa que compareceram, não foram ouvidas.

Elas serão ouvidas na próxima audiência que não tem data marcada. O caso se arrasta desde 2007.

O juiz trabalhista lotado em Montes Claros, Carlos Antonio Dias Aguilar, nascido em Coronel Murta e amigo da família do ex-prefeito, acompanhou a audiência . “Permaneci como ouvinte”, disse o magistrado.

Inácio Murta tinha 47 anos e estava em seu segundo mandato (Foto: Arquivo)

O crime

O prefeito Inácio Murta, que também era delegado da Polícia Civil, foi morto com um tiro na região da virilha, que atingiu a veia femoral, na noite de 28 de março de 2007, quando lia jornais na sala da casa da fazenda em que morava, a 3 km do centro da cidade. Ele tinha 47 anos e havia sido reeleito para um segundo mandato.

O prefeito chegou a ser socorrido, mas não resistiu ao ferimento e morreu a caminho do hospital da cidade de Salinas.

Após idas e vindas e prisões de suspeitos, o então delegado de Araçuaí Bernardo Pena Sales, concluiu o inquérito em março de 2009. Ele indiciou José Lucas Martins Lopes, atualmente com 30 anos, como sendo o autor do disparo que matou o prefeito Inácio Murta, o que foi aceito pelo Ministério Público.

José Lucas nega qualquer participação no crime e disse que jamais seria capaz de matar o então prefeito.

Fatos novos

Na tarde desta terça-feira, 22 de março, foram ouvidas quatro testemunhas de acusação arroladas pelo Ministério Público, entre elas Geane Torres Murta, viúva do ex-prefeito.

Ela foi a primeira a ser ouvida pelo Juiz Carlos Juncken Rodrigues, da 2ª Vara da Comarca. Geane Torres manteve a mesma versão dada à Polícia Civil, durante o andamento do inquérito.

Diante do juiz, ela afirmou que no momento do crime por volta das 21h10, ela se encontrava no quarto da filha de 9 anos, quando ouviu o marido gritar: “oh meu Deus, vocês levem tudo que vocês quiserem levar, roubem tudo, mas me deixem em paz”.

Em seguida ela ouviu um disparo e quando abriu uma fresta na porta, viu um homem pulando a janela e o prefeito caído na sala, todo ensanguentado.

Reparem que o prefeito disse: “Levem tudo que vocês quiserem… Isso significa que havia mais de uma pessoa no local do crime.

Na época, a polícia trabalhou com duas linhas de investigação: roubo seguido de morte e vingança. No entanto, nada foi roubado.

A esposa do caseiro da fazenda, Jacinta Florinda dos Reis, também foi ouvida. Ela disse que na noite do crime, ouviu os gritos de socorro do prefeito e saiu, juntamente com o marido e o filho de 17 anos, para ver o que estava acontecendo e neste momento, avistou o vulto de um homem de bermuda e boné, saindo por trás de uma árvore próxima ao portão de entrada da casa. Ao avistar o grupo, ele deu dois ou três tiros e que um deles acertou a perna do filho dela. Eles então retornaram para casa.

No dia seguinte ao crime, foram presos dois suspeitos de participação no assassinato, um menor de 17 anos e o seu pai, ex-funcionário da prefeitura da cidade. Eles foram libertados por falta de provas.

Em fevereiro de 2009 eles foram novamente presos, juntamente com José Lucas Lopes e seu irmão Marlon Lopes. À época eles ficaram cerca de 60 dias presos e novamente libertados por falta de provas.

O inquérito que apura o crime tem dois volumes e cerca de 430 páginas.

Defesa

As testemunhas de defesa, o artesão Arnaldo Andrade Loyola, de 51 anos e a cabelereira Dramarize Pereira, de 38 não foram ouvidas.

“Nem sei por que fui chamada”, disse a cabelereira. “Vou dizer que no dia do crime, o José Lucas passou na minha casa, no bairro Maria da Glória, por volta das 7 horas da noite e ficou pouco mais de 5 minutos”, disse o artesão.

O advogado de José Lucas, Cesário Padilha, disse que assumiu o caso há pouco mais de duas semanas. José Lucas está preso desde o ano passado para cumprimento de pena por outros crimes.

“Não acredito que meu cliente tenha participado deste crime. Hoje na audiência, uma testemunha deu um depoimento muito cristalino. Ele contou que na noite do crime, após se envolver em uma confusão em uma fazenda do então gerente dos Correios da cidade, próxima à fazenda do prefeito, ele chegou a ser baleado e foi para casa. Nas proximidades da ponte sobre o rio Jequitinhonha, que dá acesso à fazenda do prefeito, ele avistou quatro pessoas, sendo dois irmãos, o sogro de um deles e uma terceira pessoa. Por que estas pessoas ainda não foram ouvidas até hoje? Uma delas, inclusive, morreu em um acidente”, disse o advogado.

O delegado escreveu em seu relatório final que fica agora a prerrogativa de José Lucas suportar sozinho o ônus do crime ou quebrar o silêncio e apontar os comparsas ou mandantes do crime.

Ele deverá ser ouvido na próxima audiência a ser agendada pela Justiça.

Após a audiência desta terça-feira (22) ele foi o último a deixar o Fórum. De cabeça baixa, ele saiu rapidamente do prédio e entrou em uma viatura policial, escoltado por agentes penitenciários. Ele está preso no presídio de Araçuaí desde o ano passado para cumprimento de penas por outros crimes, como furtos e descumprimento de prisão em regime semiaberto.

(Fonte: Gazeta de Araçuaí)

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