Congelamento garante sobrevivência e muda vidas para melhor

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A criopreservação é uma das frentes mais promissoras da ciência e já é a responsável por avanços significativos, como o congelamento de óvulos. Essa técnica permite que mulheres com 40 anos ou mais – cujas chances de engravidar naturalmente são de 1,3% – gerem um bebê.

Em 2015, uma belga foi protagonista de um feito inédito envolvendo a criopreservação. Aos 13 anos, ela foi diagnosticada com um câncer. Durante o tratamento, um de seus ovários precisou ser retirado. Os médicos, então, decidiram congelar pequenos pedaços de seu outro ovário, para o caso de ela querer engravidar no futuro. O “futuro” chegou em junho passado. Aos 27 anos, a mulher conseguiu engravidar com óvulos retirados do tecido congelado de seu ovário.

Hoje em dia, já temos a tecnologia para congelar e descongelar com sucesso diversos tipos de tecidos orgânicos. “Os primeiros materiais criopreservados, ainda na década de 60, foram peles e ossos, para uso em vítimas de queimaduras e fraturas. A partir daí, apareceu o congelamento de óvulos e esperma e, depois, o de medula, o de sangue e o de células-tronco”, explica o médico Carlos Alexandre Ayoub, CEO do Centro de Criogenia Brasil (CCB). Todos esses tecidos, no descongelamento, ainda estão vivos e prontos para serem usados.

Demanda X oferta

O cenário muda quando se trata de órgãos inteiros. “Atualmente, no mundo todo, temos uma demanda por órgãos para transplante muito maior do que a oferta. Por isso, sempre que há a retirada de um órgão, ele é resfriado e transplantado o mais rapidamente possível. Se, um dia, tivermos uma oferta maior que a demanda, talvez tenhamos bancos de órgãos para transplante”, explica o médico Ricardo Leão Parreiras, diretor da clínica Santa Fértil, que faz o congelamento de gametas e embriões.

Riscos

Em novembro do ano passado, a norte-americana Chelsea Ake-Salvación, 24, morreu depois de uma sessão em uma câmara de crioterapia com temperaturas abaixo de – 160ºC. “Não faz nenhum sentido esse tratamento. Quando você queima uma pinta ou verruga no dermatologista, o jato de nitrogênio líquido está a – 180ºC e é capaz de matar aquelas células. Agora, imagine fazer isso com o corpo todo”, pondera o médico Roberto Figueiredo. No Brasil, a prática não é regulamentada.

Atletas de ponta usam as baixas temperaturas para prevenir lesões

Os tratamentos a frio também são muito utilizados na medicina esportiva. O objetivo é que a região afetada seja submetida a uma temperatura que varia de -15ºC a -10ºC. “Na rotina de atletas, principalmente os de alta performance, a crioterapia faz parte do protocolo ‘Price’ de tratamento: proteção, repouso, gelo (‘ice’, em inglês), compressão e elevação, base da recuperação inicial das lesões do atleta”, explica o ortopedista especialista em medicina do esporte Rodrigo Otávio Dias de Araújo, coordenador do serviço de ortopedia do PHD – Pace Hospital.

Em alguns casos, porém, a crioterapia é usada também para prevenir as lesões. É assim que, duas vezes por semana, o ginasta mineiro Bernardo Actos, 16, vai parar dentro de uma banheira com água à temperatura de 6ºC. “Eu não gosto muito, mas é preciso. Notei uma diferença grande. A gente se sente muito mais descansado, as dores musculares somem”, revela.

As sessões começaram em maio do ano passado, pouco antes de uma competição. Os banhos gelados, que duram seis minutos, têm o objetivo de relaxar a musculatura e diminuir as dores causadas pelos fortes treinos.

Mas a terapia é para os fortes: “No primeiro minuto, é muito ruim. Depois, você se acostuma com a água. A partir do quinto minuto você começa a tremer muito e, no sexto minuto, você sai e sente o maior alívio da sua vida”, relata ele, revelando que o segredo é não pensar muito antes de entrar na banheira. “Se pensar, você não entra”.

No tratamento estético, criolipóse tem como alvo as gorduras localizadas

No campo da estética, o gelo é usado para matar células indesejadas. É o que acontece nos tratamentos de criolipólise, que têm como alvo as gorduras localizadas.

“Os equipamentos disponíveis fazem o congelamento da área que tem gordura a mais. Os adipócitos (células de gordura) morrem e são lentamente absorvidos pelo organismo”, explica o médico ortoterapeuta Roberto Figueiredo, que aplica a criolipólise em sua clínica. As regiões que passam pelo tratamento são submetidas a uma temperatura que vai de -5ºC a -15ºC.

Ainda de acordo com Figueiredo, apesar de simples, o método exige alguns cuidados: o equipamento precisa ser registrado na Anvisa, o procedimento não pode ser feito em mais de duas regiões ao mesmo tempo e a pressão deve ser analisada para cada paciente. Isso evita efeitos adversos, como congelamento de tecidos internos do corpo, flacidez na região e queimaduras na pele causadas pelo frio extremo.

(Fonte: O Tempo / Repórter: Raquel Sodré)

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