Aventureiro percorre toda a extensão do Rio São Francisco a bordo de parapente motorizado

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A melhor maneira de realizar um passeio pelo rio São Francisco é de barco, certo? Errado! Pelo menos do ponto de vista do piloto Lu Marini, o céu é o caminho mais atraente, um convite, para desvendar um dos mais importantes cursos d’água do país. Administrador de empresas por formação, aventureiro por paixão e vocação, o paulista de 45 anos percorreu os quase 3 mil quilômetros de extensão do Velho Chico a bordo de um paramotor – espécie de parapente motorizado –, em uma viagem de 30 dias. O motivo: revelar e reverenciar a natureza.

Da nascente, localizada em terras mineiras, à foz, em Sergipe, semiárido brasileiro, imagens e vídeos que revelam segredos, belezas e mazelas do Rio da Integração Nacional. A experiência renderá um presente aos brasileiros. Marini vai transformar o diário da expedição em livro e documentário, a serem lançados no ano que vem. A viagem pelo São Francisco não foi a primeira. O piloto de aventura já rastreou o litoral brasileiro, conheceu, do alto, o Pantanal Mato-grossense e os vulcões mexicanos e aventurou-se pela rodovia Transamazônica e pelo rio Tietê.

Cânions surpreendem, mas falta d’água preocupa

A grata surpresa da viagem aérea foram os cânions da região de Piumhi, no Centro-Oeste mineiro. A paisagem, uma das primeiras da expedição, superou a expectativa de um cenário devastador. O melhor, porém, segundo o piloto Lu Marini, foi conhecer as histórias dos ribeirinhos. Ao todo, foram cinco estados e 42 cidades visitadas.

O aventureiro tinha a ideia de fazer o São Francisco pela importância do rio e até pela polêmica envolvendo a transposição, e esperava encontrar muitos problemas. “Mas fiquei satisfeito logo na nascente, ao ver que ainda existe água”, conta. Localizada no Parque Nacional da Serra da Canastra, em São Roque de Minas (Centro-Oeste), a principal fonte do curso d’água chegou a secar em setembro do ano passado, em função da forte estiagem.

Cânions de Xingô estão entre os pontos turísticos do Rio – Foto: Leandro Saadi

Preparação

A expedição “Rastreando o Rio São Francisco” começou a ser planejada um ano atrás, com estudo das condições meteorológicas e da direção dos ventos e definição das rotas. Os sobrevoos diários, de Sudeste a Nordeste do país, duraram de duas a três horas. Treze pessoas, entre cinegrafista, equipe de apoio e resgate, acompanharam o piloto na empreitada, patrocinada por várias empresas.

A despeito das belas paisagens e das descobertas feitas ao longo dos 30 dias, o piloto de aventura não deixou de observar que o curso d’água, um dos mais importantes do país e da América Latina, está bem aquém do nível considerado ideal. “Com a falta de chuva, da cheia do rio, nem as lagoas marginais conseguem ficar perenes. O reflexo disso é sentido na vida de que depende dele. Em Cabrobó (Pernambuco), por exemplo, os peixes são criados em cativeiro”, diz.

Lu Marini também duvida que, nas condições atuais, seja possível concluir as obras e pôr em práticas os planos previstos com a transposição do rio. O objetivo do projeto, previsto para ser concluído no fim de 2016, é ligar o São Francisco a bacias hidrográficas menores do Nordeste, atendendo a mais de 12 milhões de nordestinos. O empreendimento está orçado em R$ 8,2 bilhões. Até o momento, foram investidos R$ 6,9 bilhões. Os próximos desafios ainda não têm data marcada, mas seguirão pelos rios Paranapanema, um dos mais importantes de São Paulo, e Araguaia, que nasce em Goiás e deságua no Pará.

Deterioração começa logo na primeira área urbana após a nascente, em Vargem Bonita

Primeira cidade por cuja área urbana corre o São Francisco, Vargem Bonita, próximo à nascente, no Parque da Serra da Canastra, foi também o primeiro município a expor ao piloto paulista os problemas de poluição e sujeira enfrentados pelo Velho Chico. Ao contrário do que se esperava, o curso d’água não estava margeado por área verde, mas por um grande lixão.

“É difícil apontar uma coisa só, porque cada lugar deixa uma lembrança, uma história, mas tive um choque, logo de cara, quando cheguei a Vargem Bonita, onde vi um lixão lado a lado com o rio, com urubus voando e tudo mais”. O problema testemunhado e registrado por Lu Marini, infelizmente, não é exclusividade do município do Centro-Oeste mineiro. Estudo divulgado recentemente pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do manancial (CBHSF) – e que servirá de base para o Plano de Recursos Hídricos de 2016 a 2025 – mostra que Minas é, dentre os cinco estados banhados pelo rio, o que mais polui o curso d’água.

Atividades diferenciadas

O motivo, explica o vice-presidente do CBHSF, Wagner Soares Costa, é a alta concentração urbana e industrial nas cidades mineiras, atividade diferente da praticada nas cidades do baixo curso, próximas à foz, no Nordeste do país.

“À medida em que vamos descendo o curso, vemos uma poluição diferenciada, causada pela exploração agrícola e pela pecuária. Enquanto não se universalizar a instalação de tratamento de esgoto sanitário e a revitalização, com manutenção e recuperação de pastagens degradadas e de cobertura vegetal nas áreas de infiltração, o rio vai continuar deteriorado”, alerta.

Em Minas, somente a bacia do rio das Velhas, a segunda maior em volume depois do rio Paracatu, descarrega 322 metros cúbicos por segundo de água poluída no Velho Chico. De acordo com o relatório, a situação do Velhas é uma das mais problemáticas no conjunto da bacia hidrográfica do São Francisco.

Rio São Francisco visto do céu – Foto: Leandro Saadi

Cachoeira Casca D’Anta, a primeira queda d’água do Velho Chico – Foto: Leandro Saadi

Em Lagoa da Prata, no Estado de Minas – Foto: Leandro Saadi

Represa de Três Marias, a primeira construída no rio – Foto: Leandro Saadi

Santuário de Bom Jesus da Lapa, na Bahia – Foto: Leandro Saadi

(Fonte: Portal Hoje em Dia / Patrícia Santos Dumont)

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