Advogado deixa caso do pai que mandou matar amante e filhos gêmeos

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Contratado pelo suposto pai dos gêmeos assassinados, advogado conta que abandonou a defesa quando viu o corpo de um dos bebês sendo encontrado pela polícia. Preso não demonstra remorso, diz delegada.

“Quando eu vi o corpo de uma das crianças, eu fiquei sem defesa, sem ação, paralisado. Eu não consegui dormir naquela noite”. O relato é do advogado Odilon dos Santos, que desistiu de defender o suposto pai dos gêmeos Ana Flávia e Lucas.

Ele foi chamado pelo próprio suspeito, Matuzalém Ferreira Júnior, de 49 anos, para fazer a sua defesa, mas informou nesta quarta-feira (18) que está deixando o caso.

Corpos dos bebês foram encontrados no interior de São Paulo – Foto: Reprodução

A mãe das crianças, Izabella Marques Gianvechio, de 22 anos, foi assassinada na última semana, depois que Matuzalém marcou um encontro com ela sob o pretexto de resolver a questão com as crianças. Izabella insistia para que o homem, que é casado e tem dois filhos, assumisse a paternidade dos gêmeos.

De Uberaba, ela foi levada para a cidade de Aramina, que fica a cerca de 45 quilômetros do Triângulo Mineiro, no interior de São Paulo. “Pedrão”, amigo do suspeito e indicado por ele como sendo o executor do crime, estava com Matuzalém na ocasião e teria matado a mãe a as crianças. Os corpos dos gêmeos só foram encontrados nessa terça-feira (17).

“Eu decidi deixar o caso por dois motivos. Primeiro, porque ele mentiu para mim desde o começo. Pra família dele e para os parentes também. Passou três dias mentindo, jurando por Nossa Senhora de Aparecida que estava falando a verdade, e eu só fui descobrir sobre os bebês na delegacia. Até então, eu estava pontuando minha defesa com base nas mentiras dele, colocando fatos errados”, explica o advogado. Foi só depois de o homem confessar seu envolvimento na delegacia e levar a equipe policial ao local do crime, que Santos percebeu que ele mentia.

“O segundo motivo foi quando fomos ao local do crime e a polícia encontrou o corpo do primeiro bebê. Quando eu vi o corpo da criança, ainda no bebê-conforto, o corpinho cheio de larvas, cheio de sangue, todo despedaçado, eu me revoltei. Fiquei sem ação. Tive que me afastar. Não vi nem o encontro do segundo corpo. Eu nunca conseguiria fazer uma boa defesa nessas condições”, explica.

Ainda conforme Santos, ele passou o dia pensando nisso e ao chegar em casa, desabafou com a mulher. “Conversei com minha mulher, não consegui dormir à noite. A família dele me ligou diversas vezes para saber o que houve, eles não gostaram muito não. Minha decisão é firme. Não recebi nenhum dinheiro dele, não tem nenhuma procuração, nenhum contrato, nada formalizado que me impede de sair do caso. E eu estou certo de que fiz a escolha certa. Não há dinheiro no mundo que pague a tranquilidade de um homem. E estou mais tranquilo agora”, conta.

O advogado também relata que passou a ser ameaçado e hostilizado desde que aceitou a defesa de Matuzalém. “Quando ele saiu da delegacia e eu estava com ele e as pessoas tentaram virar a viatura, dirigiram ofensas a ele e também a mim. E no Facebook, eu recebi várias ameaças também, de gente dizendo que iria matar a minha filha, a minha esposa”, conta.

Mas segundo ele, não foi isso que o fez desistir. “Eu tenho uma filha de 4 anos, era impossível ver isso e ficar tranquilo. Não precisava ter sido assim, não tem nada que justifica ter matado esses bebês, nada. Deixasse na porta da casa de alguém, dava pra adoção, não precisava ter feito isso. É revoltante. Foi perturbador ver o corpinho da criança, todo despedaçado, não podendo nem ser identificado”, finaliza.

Santos pretende se encontrar com a família do suspeito nesta quinta-feira (19) para oficializar sua saída do caso. Matuzalém pode recorrer a outro advogado para defendê-lo. Caso não consiga, ele tem direito a um defensor público designado pelo Estado para fazer a sua defesa.

Mulher e os filhos gêmeos foram assassinados – Foto: Reprodução

Preso não demonstra remorso, diz delegada

“Ele não mostrou arrependimento mesmo sabendo que pode ser o pai das crianças”. Foi com essa frase que a delegada Carla Bueno definiu o perfil de Matuzalém. O empreiteiro se entregou à polícia na noite de terça-feira e apresentou versões desencontradas antes de confessar que contratou Antônio Moreira Pires, o Pedrão, para matar as crianças. A motivação era o reconhecimento da paternidade das crianças. “Primeiramente, ele negou o crime dizendo que tinha sido sequestrado. Em seguida, disse uma segunda versão dizendo que outro homem que também poderia ser o pai das crianças quem cometeu os assassinatos. Somente depois que apresentamos as provas, confessou participação no homicídio”, explica a delegada.

Matuzalém foi interrogado e confessou o triplo homicídio – Foto: Jairo Chagas / Jornal da Manhã

Matusalém afirmou, em depoimento, que quem cometeu o crime foi Antônio, para a polícia o crime foi premeditado. “Ele ligou para a Izabella dizendo que iria reconhecer as crianças e a convidou para ir a um shopping. Quando já estava com a mãe e os dois bebês, pegou Pedrão que já o esperava e foram para a BR-050”, diz Carla Bueno.

Na versão de Matuzalém, no trajeto Antônio pediu para ele parar o carro para “poder finalizar o serviço”. O homem retirou Izabella do carro, a jogou no chão e em seguida atirou duas vezes contra ela. Apenas um tiro acertou a vítima. Em seguida, conforme o depoimento de Matusalém, os dois seguiram pela rodovia e pararam poucos metros a frente. “Pedrão teria retirado as crianças nas cadeirinhas e levado para dentro de um matagal. Matusalém disse que apenas ouviu o barulho dos dois tiros”, comenta a delegada.

Depois que se entregou à polícia, Matusalém levou os investigadores até o local aonde as crianças foram deixadas. Segundo a delegada, ele não mostrou nenhum arrependimento. “Ele demonstra muita frieza. Foi no local e em nenhum momento demonstrou qualquer atitude de remorso ou algum sentimento mesmo sabendo que poderia ser o pai das crianças”, afirma.

A polícia concentra as investigações para tentar encontrar Pedrão, apontado com o executor dos assassinatos. Diligências foram feitas em cidades da região e a Polícia Civil de outros estados foram contadas. Assim como os policiais das fronteiras. Até às 17h, o homem, que está com um mandado de prisão temporária em aberto, não tinha sido encontrado.

Corpos dos bebês foram encontrados no interior de São Paulo – Foto: Reprodução

(Fonte: Jornal O Tempo / Estado de Minas)

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