Transformar realidade de alunos incentiva atuação de jovens professoras

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O desejo de transmitir conhecimento e a possibilidade de transformar a realidade de jovens por meio da educação são alguns dos fatores que incentivam a atuação de duas jovens professoras recém-chegadas às salas de aula. Elas já conhecem os desafios da profissão, mas continuam certas de que fizeram a escolha correta.

Filha de professores, Agnes Serrano, 23 anos, tinha ideia dos desafios a serem enfrentados na profissão, mas não teve dúvidas quando decidiu ser professora. Há quatro meses, elá dá aulas de geografia em uma escola pública de Ceilândia, cidade do Distrito Federal próxima a Brasília, para alunos do 6° ao 9° ano do ensino fundamental.

“Sempre ouvi dizer que dar aula era um desafio, mas era prazeroso. Só fui entender agora que dar aula é difícil porque você tem que lidar com realidades muito complicadas do ponto de vista social”, conta Agnes.

O sentimento de que é possível mudar para melhor a realidade dos estudantes é um incentivo para a professora. “A gente se percebe como agente que pode modificar a realidade dos estudantes, incentivando os meninos a seguir em frente, dar prosseguimento aos estudos. Sabemos que é só o estudo que vai mudar essa realidade em que vivem. Temos muitos estudantes que percebem a dificuldade da realidade social deles e querem mudar”, disse.

Na avaliação de Agnes, o professor não chega à sala de aula com o preparo necessário para enfrentar o dia a dia da profissão. Segundo ela, o curso superior oferece uma boa formação teórica, mas falta a prática.

“Acho que a universidade e a educação básica não são próximas e é na educação básica que os alunos são preparados também para entrar no curso superior”. E completa: “Quando entramos em contato com o público com o qual vamos trabalhar, já estamos no fim do curso. Então, acho que a preparação é muito deficiente”.

Em poucas palavras, a professora de geografia resume o que tem sido a experiência desses quatro meses de magistério. “Não imaginei que eu fosse gostar tanto de dar aula. Está sendo muito bom. Tenho a expectativa de devolver à sociedade tudo que aprendi”, diz Agnes, que sempre estudou em instituição pública de ensino.

A professora de espanhol Maria Eduarda Andrade, 23 anos, lecionou por seis meses em escola particular e, desde setembro, dá aulas no Centro de Ensino Médio 01 do Gama, no Distrito Federal. Ainda criança, ela brincava de ser professora e hoje o que era brincadeira se tornou realidade.

Maria Eduarda relata que, como professora de espanhol, tem encontrado prós e contra na atividade. “Espanhol é para alunos de ensino médio e não é uma matéria que reprova, aí você se depara com alunos que não dão a mínima importância para a matéria. Fiquei chocada com algumas coisas que ouvi”, lembra.

Esse susto inicial, no entanto, é compensado pelo retorno positivo de alunos interessados em aprender. “Estou adorando dar aula. Ao mesmo tempo, há os que fazem questão da aula e isso compensa os que não querem nada”.

Ela conta que busca tornar as aulas mais dinâmicas, interagir com os alunos e não se apegar tanto ao livro didático para tornar o aprendizado mais interessante. O uso da tecnologia em sala de aula é citado como meio para prender a atenção dos jovens, mas observa que isso pode ter também um lado negativo. “Muitos estudantes não sabem usar a tecnologia a favor deles e querem bater uma foto do conteúdo que está no quadro em vez de copiar para fixar a matéria”, acrescenta.

Docentes em início de carreira relatam desafios

Entrar em sala de aula com crianças e adolescentes e um currículo para cumprir é uma atividade repleta de prazer e também de desafios. No Dia do Professor, comemorado hoje (15), docentes que estão há pouco tempo na sala de aula falam sobre o dia a dia em escolas públicas e particulares, as dificuldades com estrutura, materiais didáticos e em prender a atenção dos alunos. Eles falaram também sobre a importância do diálogo e do respeito entre professores e estudantes. Apesar das dificuldades, lecionar é um sonho realizado para muitos deles.

Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis), da Organização para a Cooperação (OCDE), divulgada este ano, mostrou que são muitos os desafios a serem vencidos pelos professores do ensino básico. Quase 90% dos professores brasileiros acreditam que a profissão não é valorizada na sociedade. Mesmo assim, a maioria (87%) sente-se realizada com o trabalho. Também, segundo a pesquisa, 20% do tempo em sala de aula são usados para controlar o comportamento dos alunos.

A formação é fator relevante quando se fala da carreira de professor. Os dados do Censo da Educação Superior mostram que, em 2013, os formandos em licenciaturas foram 201.353. O número vem caindo desde 2011, quando foram registrados 238.107 concluintes no grau acadêmico. Em 2012, foram 223.892. O número era 145.859 em 2003 e atingiu o pico dos últimos dez anos em 2009, com 241.536 concluintes em licenciaturas.

Pelo Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece metas a serem cumpridas no setor em dez anos, até 2024, todos os professores do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio devem ter licenciatura na área em que atuam. Esse percentual está em 32,8% nos anos finais do ensino fundamental e em 48,3% no ensino médio, segundo dados do Observatório do PNE, que reúne informações sobre cada meta e estratégia do plano.

O Ministério da Educação tem incentivado a formação dos professores com ações como o Programa de Consolidação das Licenciaturas (Prodocência), que oferece apoio financeiro a projetos pedagógicos inovadores que contribuam para melhorar os cursos de formação de professores da educação básica. Outra iniciativa é o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor), desenvolvido em parceria com instituições de educação superior e secretarias de Educação dos estados e municípios, que estimula as licenciaturas.

(Agência Brasil)

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