Áudio de diretor gritando com alunos gera discussão entre educadores no Norte de Minas

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A divulgação de um aúdio que vazou nas redes sociais, onde é possível ouvir o diretor de um colégio de Montes Claros (MG) gritando com alunos do ensino médio, gerou uma discussão entre pofissionais e especialistas na área de educação.

O episódio ocorreu depois que um professor de física saiu da sala de aula passando mal e foi encaminhado ao hospital, devido às conversas paralelas que ocorriam durante a aula.

Na ocasião, o diretor do colégio, César Urcini, se dirigiu à turma do 3º ano com expressões como “bando de vagabundo que tá atrapalhando, honre pelo menos as cuecas que você usa […] se você não o honra o dinheiro do seu pai, honre as calças que você usa […] prefiro um bolsista bom que um bosta pagante […] o professor foi parar no hospital e não dá aula nessa turma, não vou tolerar você acabar com o nome do colégio, não tem vergonha na cara não? quero ver quem vai me peitar hoje […]”

Sala do 3º ano onde houve a gravação do aúdio (Foto: Adriana Lisboa/G1)

Segundo César Urcini, três alunos daquela turma eram os responsáveis pela desordem. Dois foram expulsos naquele dia. “Eu reconheço que me exaltei, reconheço que usei palavras indevidas, principalmente no que tange ao ambiente escolar, mas eu também não posso me acovardar, não viemos aqui pra brincar.”

Ainda segundo Urcini, ele já havia conversado três vezes com os pais do aluno expulso, na tentativa de melhorar o comportamento do jovem dentro da sala de aula.

“Eu já queria ter expulado há dois meses atrás, mas os pais disseram que se eu expulsasse nenhum colégio ia querer, mas isso não é meu papel, é papel da família. Educar não quer dizer tolerar”, diz.

O diretor garante que após a expulsão dos dois alunos, a turma vive uma outra realidade. “Quando eu entro na sala de aula é para resolver um problema que o professor não consegue e essa atitude foi para mostrar que não se pode mais afrontar o professor e desrespeitar os colegas. Não podemos tolerar nem um desmando, nem um degredo humano no que tange à personalidade do professor dentro da sala de aula”, disse César, que também é professor de Filosofia.

Dados do Sindicato dos Professores de Minas Gerais, colhidos a partir do levantamento do disque-denúncia, criado pelo Sinpro, apontam que três denúncias de violência contra o professor são feitas todos dias no estado, na rede pública e privada. As denúncias referem-se à ocorrência de ameças, intimidações, agressões verbais, físicas, assédio moral e tráfico de drogas.

De acordo com a diretora do Sinpro, Nalbar Alves Rocha, os professores sofrem a violência e não existem políticas públicas para defender o profissional, que está adoecendo e desistindo. Para ela é preciso romper a cultura do medo e denunciar.

“Nós temos recebido constantes denúncias de maus tratos para com o professores, de violência verbal, física e até casos de assassinato. O desrespeito e a desvalorização do professor é comum. Já fui ameaçada por um pai porque não aprovei um aluno”.

Para a psicopedagoga Lucineide Fonseca Silva, a violência em qualquer ambiente começa cedo, e ela não acontece com uma pessoa somente, precisa existir o outro.

“Esse jovem que agrediu, pode já ter sido agredido. A violência começa na infância, quando o bebê é deixado em uma creche porque a mãe precisa trabalhar, e depois vem outras violências, praticadas pela própria sociedade”, diz.

A profissional defende que toda escola deveria ter um psicopedagogo, um assistente social, porque os jovens estão sem limites, e o professor é humano e precisa de equlíbrio para poder fazer a gestão.

Para ela, o problema pode estar na família, na desigualdade social, e tudo isso reflete na escola, e é aí que entra a psicopedagogia, porque a violência pode ser patológica ou cognitiva/afetiva.

“Se for patológica encaminho para o especialista, seja psiquiatra, neurologista e outras áreas, mas se for cognitiva, é responsabilidade da psicopedagogia, para lidar com todas as violências sofridas por esse jovem e que refletem na sala de aula por toda vida. Esses jovens vem carregados de problemas, e nós somos os formadores”, completa.

(Inter TV / G1)

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