A polêmica reportagem da revista “France Football” sobre a Copa do Mundo no Brasil

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Uma publicação reportando a edição do dia 28 de janeiro de 2014, da revista francesa “France Football” se transformou em um viral na internet brasileira nos últimos dias. Milhões de pessoas acessaram, compartilharam e viram uma suposta versão em português do que estava publicado na revista.

A publicação verdadeira da respeitada revista trás uma capa negra, onde se lê “Peur sur le Mondial”, algo como: “Medo do Mundial”, sendo que letra “O” da palavra “mondial” está a bandeira do Brasil, e onde deveria estar escrito “Ordem e Progresso”, foi colocada uma tarja negra.


(Capa da revista de 28 de janeiro de 2014)

O subtítulo diz: Atingido por uma crise econômica e social, o Brasil está longe de ser aquele paraíso imaginado pela FIFA para organizar uma Copa do Mundo, a menos de 5 meses do mundial, o Brasil virou uma terrível fonte de angústia.

Você poderá ler a revista, em francês (CLICANDO AQUI) ou fazer o download do arquivo compactado e em PDF (CLICANDO AQUI).

OS EXAGEROS DA TRADUÇÃO

– “Todo o alto escalão do governo Lula está preso por corrupção, mas os artistas e grande parte da população acham que eles são honestos, e fazem campanhas para recolher dinheiro para eles”. A France Football fala, sim, de corrupção. Mas de forma genérica e não cita artistas, nem qualquer colaboração com Lula. Diz também que a inércia política atrapalha as obras da Copa. E relata, como uma forma de comprovar essa corrupção, que as empreiteiras a cargo da construções dos estádios seriam financiadoras de campanhas eleitorais.

– “O Deputado mais votado do Brasil é um palhaço analfabeto e banguela, que faz uma dança ridícula, com roupas igualmente ridículas, e seu bordão é: “pior que está não fica”. Será? A reportagem não usa o deputado Tiririca, nem cita as roupas do parlamentar, nem as músicas. Mas, para ilustrar o tom das manifestações, descreve um homem (Eron Morais de Melo, um dentista) que se fantasiou de Batman em uma manifestação popular no dia 9 de janeiro. Aliás, logo no primeiro parágrafo.

– “O que falta no Brasil é educação. Os números são assustadores, mesmo quando comparados com seus vizinhos sul-americanos”. A revista não usa essa frase. Para comparar o uso de dinheiro público em obras da Copa com investido na educação afirma que, em 2013, o orçamento federal para a Educação foi de 12,8 bilhões de euros. Para construir e reformar 12 estádios, foram até agora 11 bilhões de euros.

– “O francês Jérome Valcke, secretário geral da Fifa criticou o Brasil pelos atrasos. O governo brasileiro disse que não conversaria mais com Jérome Valcke”. A France Football não crava em qualquer momento esse rompimento de relação. Cita, sim, a crítica do secretário-geral da Fifa, mas afirma que, em março de 2012, ele foi “provisoriamente” declarado “persona non grata” por afirmar que os organizadores do Mundial deveriam levar um “chute no traseiro”.

– A imagem atribuída à revista como parte da matéria sobre a Copa por alguns blogs nunca foi publicada pela France Football. A foto mostra Vanessa e Clara, duas integrantes do BBB 14, fazendo topless. Na revista, a foto de abertura é a imagem do guindaste caído no Itaquerão, tragédia que matou dois operários na construção do estádio;

– “Reze para não ter problemas de saúde quando estiver no Brasil”: a frase não foi publicada pela revista;

– Lula é amigo íntimo de Marcelo Bahia, diretor da Odebrecht, vencedora da licitação (para construção do Itaquerão). Além de não ter sido publicada pela France Football, a informação é falsa: não houve licitação para construir o estádio corintiano, pois ele é privado. A reportagem faz alusão ao ex-presidente ao dizer que o futuro estádio corintiano é chamado de “Lulão” no bairro “Itaquerão”;

– A revista francesa também não fala desta forma dos ataques a ônibus: “Diariamente os ônibus são atacados por gangues que lhes ateiam fogo sob ordem de criminosos. Às vezes não dá tempo do passageiros sair correndo e morre carbonizado”;

– Mais um trecho que não existe: “Ônibus lotados a toda velocidade dividem faixas com carroças, mendigos, motoqueiros cruzando faixas sem sinalizar, pessoas xingando, engarrafamentos”;

– “A atual presidente garantiu que faria um trem-bala, nos moldes do TGV francês, que ligaria 4 cidades-sede: São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Brasília”. O trecho não foi publicado, e o projeto do governo federal era fazer um trem-bala ligando Rio e São Paulo;

– “Todo brasileiro conhece alguém que foi assassinado” e “Recomenda-se levar uma pequenas quantidade de dinheiro para caso de assaltos. É comum assassinarem as pessoas que nada tem para o assalto.” Não há citações desse tipo na matéria

NÃO ESTÁ NO FACEBOOK, MAS ESTÁ NA FRANCE FOOTBALL

Ilustrada com uma foto do acidente com a cobertura do Itaquerão em São Paulo no mês de novembro, a revista fala, em seis páginas, sobre os atrasos na entrega dos estádios, a insatisfação da população, a alta vertiginosa dos preços, o risco de manifestações gigantescas, e até as diferenças de clima entre as regiões durante o evento foram citados pela publicação para justificar os temores com a organização da Copa.

A revista revela que a organização do evento expõe duas faces diferentes: por uma lado, as exigências da Fifa, “às vezes desmedidas, normalmente inadequadas”, e, por outro, um país de crescimento econômico fraco, com problemas políticos, corrupção e uma alta de preços considera insuportável.

Como comparação, a publicação lembra que o Brasil investiu para construir ou renovar 12 estádios e com outras obras da Copa mais de 11 bilhões de euros, enquanto o orçamento do governo para a educação no país em 2013 foi de 12,8 bilhões.

Até o super-heroi Batman, personagem presente em diversos protestos e que se tornou símbolo da contestação social, parece ser impotente diante de tantos problemas, ironiza a France Football.

A revista lembra as recentes declarações do presidente da Fifa, Joseph Blatter, de que nunca um país esteve tão atrasado na preparação de uma Copa do Mundo, e do secretário-geral, Jérôme Valcke, admitindo que a competição vai ser realizada sem infraestruturas totalmente instaladas e testadas.

Segundo a revista, o ritmo imposto na corrida contra o tempo para as obras já deixaram 4 vítimas fatais, em referência aos acidentes com as Arenas de Brasília, Manaus e São Paulo. Em sua reportagem, France Football estima que os compromissos entre governos locais e empreiteiras que se beneficiaram dos atrasos para cobrar preços exorbitantes foi extremamente prejudicial para o contribuinte brasileiro.

“Os doze estádios foram financiados pelo Estado embora o compromisso tenha sido com fundos privados” (France FootBall)

Em relação a obras de infraestrutura, a revista afirma que os 600 mil turistas esperados no Brasil durante a Copa deverão transitar por aeroportos com “latas de tinta e andaimes pelos corredores” nos terminais, em referência aos atrasos nas principais portas de entrada para as cidades escolhidas como sedes da competição. Em Curitiba, cita a reportagem, o canteiro de obras não avançou 20% do que estava previsto.

Para a revista, não apenas os brasileiros que protestam nas ruas têm motivos para reclamar. Até os próprios jogadores que criaram o movimento “Bom Senso Futebol Clube” também saíram a campo para defender seus interesses, como um calendário de jogos menos carregado.

Em entrevista concedida à revista, o presidente da Fifa confessa que a entidade possa ter tido uma confiança excessiva no Brasil para organizar o maior evento do futebol mundial. Blatter voltou a reafirmar que nunca um país teve tanto tempo, 7 anos, para realizar uma Copa e garantiu que a presidente Dilma Roussef prometeu a ele provar que “o país estará pronto”.

“O orgulho não deve fazer esquecer os compromissos do governo com as obras de infraestrutura” (Joseph Blatter – presidente da Fifa)

(Fonte: Uol e Oscar Filho)

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