Transporte clandestino para o Norte de Minas e Vales do Jequitinhonha, Rio Doce e Mucuri desafia fiscalização no Centro de BH

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Empresas driblam agentes e anunciam passagens na região metropolitana.
Preços atraem passageiros.


FLAGRA: A reportagem identificou um ponto de embarque na rua dos Tamóios perto da avenida Amazonas – Fotos: Douglas Magno

Em um dos pontos mais movimentados do centro de Belo Horizonte, a menos de cem metros de uma câmera do Olho Vivo, ônibus clandestinos saem todas as quartas, sextas e domingos com destino a cidades do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha. Com passagens que custam quase a metade do preço do bilhete das linhas regulares, não faltam passageiros para o esquema altamente lucrativo. Algumas empresas que ofertam o serviço ilegalmente chegam a faturar até R$ 200 mil por mês com apenas dois ônibus em operação. Apesar de saírem do centro da capital, as autoridades alegam dificuldades para fiscalizar os coletivos.

Os veículos da empresa Ângelo Turismo partem às 21h da rua dos Tamóios, quase esquina com a avenida Amazonas. Por volta das 20h, já há aglomeração de pessoas com bagagens em frente ao ponto de partida.

Enquanto esperam a chegada do ônibus, eles comentam a escolha pela linha clandestina. “É muito mais barato e nunca tive problemas. Só viajo de linha regular se for emergência, porque o preço é absurdo”, afirmou uma mulher de meia-idade com malas nas mãos. Um jovem com bilhete comprado concordou. “Viajei o ano inteiro em ônibus assim e nunca fiquei parado na estrada. Dá para confiar”.

Os destinos dos ônibus clandestinos são as cidades de Montes Claros, Januária, Bocaiúva e Mirabela. Os preços variam entre R$ 60 e R$ 90. Na rodoviária, o preço dos bilhetes para os mesmos destinos vão de R$ 111 a R$ 159.

Porém, o que é uma vantagem para o bolso pode se transformar em transtorno. Como são irregulares, não há garantia de manutenção de veículos, o que aumenta o risco de falha mecânica. Além disso, se forem flagrados pela fiscalização, poderão ficar no meio do caminho, o que já aconteceu com alguns dos passageiros que aguardavam a viagem. “Já passei cinco horas esperando na estrada depois que a fiscalização pegou o ônibus. Mas continuo viajando porque é bem mais barato e vale a pena correr o risco”, disse um cliente.

OPERAÇÃO

O diretor de fiscalização do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), João Baeta, admitiu que há vários entraves para realizar uma fiscalização de maneira mais efetiva. “Toda vez que são flagrados, eles alteram o local onde atuam e continuam operando. Além disso, nós só podemos fiscalizar nas rodovias estaduais. Nas estradas federais, só a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) pode fazer essa fiscalização e existem apenas 20 fiscais para todo o Estado”, detalhou.

De acordo com Baeta, as empresas que atuam no transporte clandestino são bem-organizadas e contam com um planejamento para driblar a fiscalização enviando carros particulares na frente dos ônibus. Assim, se houver fiscalização, eles conseguem avisar aos motoristas dos ônibus por mensagens de celular. Nesses casos, o condutor faz desvios para fugir da blitz.

O diretor de fiscalização do DER-MG também alertou que há um grande interesse dos passageiros nesse serviço por causa do preço baixo, o que aumenta a lucratividade do esquema. “Com apenas dois ônibus, eles lucram mais de R$ 200 mil. Isso é um grande estímulo para a continuidade da oferta do transporte clandestino”, explicou.

TENTATIVA

ACORDO: O DER–MG trabalha para firmar um acordo com a ANTT para permitir que os agentes do órgão estadual atuem também nas estradas federais para aumentar a fiscalização.

SAIBA MAIS

APREENSÕES: Segundo o DER–MG, foram apreendidos mais de 1.400 veículos em quase 120 mil abordagens feitas em 2013. O órgão afirma que existem mais de 400 liminares impedindo a retenção dos veículos.

INFRAÇÃO: A multa para quem é flagrado fazendo transporte clandestino é de R$ 1.250. Em caso de reincidência, esse valor dobra e chega a R$ 2.500.

FRETAMENTO: De acordo com a legislação estadual, para fazer o fretamento de um ônibus é preciso que o contrato seja feito em um valor total pela viagem, com os passageiros já pré-determinados. Nesses casos, não pode haver a oferta da viagem ao público com venda de bilhetes individuais.

ANTT: Procurada, a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) não respondeu o e-mail enviado pela reportagem sobre o assunto.

SERVIÇO TAMBÉM SOBREVIVE NA PORTA DO TERMINAL RODOVIÁRIO

Na porta do terminal rodoviário do centro de Belo Horizonte, a oferta de transporte irregular ocorre sem nenhum tipo de constrangimento. Porém, ao contrário do esquema flagrado, o transporte é feito por carros particulares e os veículos não têm data fixa de partida e saem no ato da contratação.

Nesse caso, os preços não são tão mais baratos que as passagens cobradas pelas linhas regulares. Enquanto a viagem para Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, custa R$ 85 no guichê da rodoviária, o mesmo trajeto oferecido em carros particulares sai por R$ 70.

Além de Governador Valadares, são oferecidas viagens para outros destinos, como Ipatinga, no Vale do Aço, Montes Claros, no Norte de Minas, e Ouro Preto e Mariana, na região Central.

(Informações do Jornal O Tempo)

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