Base científica do Brasil será reinaugurada na Antártida

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A base científica do Brasil na Antártida, que tem o nome de Estação Comandante Ferraz, será reinaugurada nesta terça-feira (14), com uma estrutura maior e mais moderna que a anterior, que era utilizada pelos pesquisadores desde 1984 e foi atingida por um incêndio, em 2012, que destruiu 70% do local.

Ao longo dos últimos anos, o Governo Federal investiu cerca de US$ 100 milhões na reconstrução da estação, que recebeu 17 laboratórios e equipamentos avançados. Na nova base pesquisadores vão realizar estudos nas áreas de biologia, oceanografia, glaciologia, meteorologia e paleontologia.

“A base anterior tinha cinco laboratórios até um pouco acanhados. Agora teremos 17 laboratórios em uma capacidade de pesquisa muito grande. Nossos pesquisadores poderão usufruir dela com uma facilidade muito grande”, contou o contra-almirante da Marinha e gerente do Programa Antártico Brasileiro, Sérgio Guida.

Foto: Samy Liberman / Governo do Brasil

O projeto é todo nacional e foi executado por uma empresa chinesa. Para enfrentar as condições adversas do continente antártico, que tem ventos fortes e nevascas constantes, foram usadas 700 toneladas de aço.

A base foi colocada em uma estrutura elevada, e os pilares de sustentação atingem até 26 metros de profundidade, que garantem a estabilidade e deixam os laboratórios a mais de três metros do solo.

“São ventos fortes que chegam a cerca de 200 quilômetros por hora; os abalos sísmicos e os solos permanentemente congelados. Essas três condicionantes fizeram com que fizéssemos essas fundações da forma que são”, relatou o capitão de fragata Newton Fagundes.

Segurança e pesquisas

Entre os itens de segurança, foram instaladas portas corta fogo, alarmes de incêndio e sensores de fumaça. Na sala de máquinas e de geradores, as paredes são ultrarresistentes e conseguem suportar o fogo durante duas horas sem permitir que se espalhe por outros locais.

Dezesseis militares brasileiros cuidam da manutenção da base. Eles e os pesquisadores vão ficar instalados em quartos com duas camas e banheiros. A estação também tem uma sala de vídeo, locais para reuniões, academia de ginástica, cozinha e um ambulatório para emergências.

Cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) devem ser os primeiros a trabalhar na estação, desenvolvendo pesquisas na área de microbiologia. A Agência Internacional de Energia Atômica (AEIA) também já confirmou que vai desenvolver projetos meteorológicos na base brasileira. Criar condições para que os pesquisadores brasileiros atuem na Antártida é importante para a compreender a história do passado e traçar perspectivas para o futuro, de acordo com o professor de geofísica e pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) na Antártida, Heitor Evangelista.

“Estudar o manto de gelo da Antártida é estudar um pouco sobre a história e evolução da América do Sul. Todos os processos que ocorrem na América do Sul, tais como a desertificação, erupções vulcânicas, El Niño (fenômeno climático de aquecimento das águas do Oceano Pacífico), cada um desses processos deixam um pouco do seu rastro no gelo da Antártida. Então, quando estudamos o gelo da Antártida, estamos reconstruindo a história do passado para melhor compreendê-la”, disse o pesquisador.

Foto: Reprodução / Governo do Brasil

Sustentabilidade

Construída com o objetivo de reduzir a agressão ao meio ambiente, 30% da energia consumida nos laboratórios da estação vem de fontes renováveis produzidas por placas solares e uma miniusina eólica instalada no local.

O calor que os geradores de energia emitem, em vez de ser lançado para o ar, é canalizado para aquecer a usina. Os cuidados com a sustentabilidade também envolvem os resíduos: todo o lixo produzido na base será enviado para o Brasil para ser reciclado.

Chegada à Estação Comandante Ferraz

O deslocamento até a Antártida é uma verdadeira aventura. As condições climáticas são severas e imprevisíveis. É preciso contar com a ajuda da natureza e com um pouco de sorte. No trajeto, há o estreito de Drake, ponto de encontro entre os oceanos Pacífico e Atlântico, região considerada a mais perigosa do mundo para a navegação, com ondas que podem chegar a onze metros de altura e ventos de mais de 200km/h. 

A viagem rumo à Antártida começa em Punta Arenas, cidade ao extremo sul do Chile que serve de base para os navios que seguem para o continente gelado. Neste local do planeta, qualquer tipo de deslocamento é complicado dada a necessidade de atravessar o estreito de Drake. A navegação envolve um grande trabalho de planejamento, com briefings meteorológicos diários para avaliação das melhores condições e melhor janela para atravessar o estreito.

Normalmente, os primeiros dois dias de viagens são mais tranquilos, quando o navio deixa Punta Arenas e segue pelo estreito de Magalhães, passando pelos canais chilenos repletos de ilhas que impedem a chegada das fortes marés características do Drake.

A embarcação Almirante Maximiliano é uma espécie de cidade flutuante, com estoque de combustível e alimentos suficientes para navegar por até cinquenta dias. O navio é utilizado para transportar pesquisadores brasileiros que desenvolvem estudos na Antártida e militares que trabalham na Estação Comandante Ferraz. Todo o apoio logístico para os cientistas é oferecido pela Marinha.

Foto: Reprodução / Governo do Brasil

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