Oito barragens da mineradora Vale em Minas Gerais podem se romper, indica relatório

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Pelo menos oito barragens da Vale em Minas Gerais correm “severo risco de rompimento”, conforme ação encaminhada à Justiça do Estado. O documento, que tramitava em sigilo e foi publicado ontem, lista reservatórios de Barão de Cocais, Nova Lima, Ouro Preto e Brumadinho, onde o desastre ocorrido há 19 dias deixou até o momento 165 mortos. Somadas, as populações desses municípios ultrapassam 239 mil pessoas.






A mineradora sabia do perigo de acidente na Mina do Córrego do Feijão desde outubro de 2018, segundo o Ministério Público (MP). À época, documentos internos elaborados pelo setor de gestão de risco geotécnico da Vale apontavam que, dos 57 reservatórios da companhia, dez estavam em “zona de atenção”. Dentre eles, as barragens I e IV-A, que estouraram em 25 de janeiro.

De acordo com o relatório, todas as estruturas mencionadas estão perto de núcleos urbanos. Ou seja, “não há tempo suficiente para intervenção das autoridades competentes em situações de emergência, de forma que as pessoas têm que se salvar sozinhas”.

Foto: Divulgação / Cemig

Conservadoras

O biólogo Diego Lara, que atua na área de consultoria ambiental há 12 anos, observa que as mineradoras precisam ser mais conservadoras diante de cenários de riscos. Ele destaca que muitos estudos mostram a possibilidade de rompimento, mas, às vezes, os planos de emergência elaborados não estão à altura.

“Dessa forma, é possível oferecer aos moradores que vivem próximos às barragens a opção de continuar ou não vivendo no local”, diz. “O que temos visto é que a população, muitas vezes, não tem conhecimento dessa ameaça”, ressalta Lara.

Professora dos cursos de engenharias civil e de minas das Faculdades Kennedy, Rafaela Baldí Fernandes explica que todas as medidas de segurança devem estar rigorosamente estabelecidas pelas empresas a partir do início das operações. “Mas é preciso lembrar também que a fiscalização pode detectar e cobrar essas mudanças”, destaca.

Prevenção

Várias ações protetivas foram impostas à Vale. Dentre elas, a contratação de auditoria independente para emitir relatórios de estabilidade das oito estruturas em risco e de todo o complexo minerário em que elas se situam. Em caso de descumprimento, conforme decisão judicial de 1º de fevereiro, a multa prevista é de R$ 1 milhão por dia.

Até esta terça-feira (12), segundo o Ministério Público, nenhuma ação havia sido adotada pela Vale, que já acumulava de R$ 12 milhões em autuações.

Outra obrigação prevista é a contratação de uma empresa que consiga “firmar compromisso nos autos de trabalhar como perito do juízo e realize vistorias in loco para verificação dos parâmetros necessários à assegurar ou não a segurança das estruturas”.

Por nota, a Prefeitura de Nova Lima disse que não foi comunicada sobre a necessidade de intervenção das barragens Capitão do Mato, Dique B e Taquaras, nem de decisões tomadas pelo MP.

Chefe do Executivo de Ouro Preto, Julio Pimenta também afirma não ter sido notificado. Ele diz que as barragens Forquilha I, II e III estão longe do Centro da cidade, sem distritos adjacentes, mas próximas à vizinha Congonhas. “Criamos uma comissão para identificar a situação e pedimos que nenhuma barragem seja alteada. Também solicitamos o cronograma de descomissionamento delas”.

Nenhum representante da Prefeitura de Congonhas foi localizado. Já as administrações municipais de Barão de Cocais e Brumadinho não responderam se foram comunicadas sobre os riscos.

Em coletiva, o gerente-executivo da Vale, Lúcio Cavalli, disse que o relatório aborda “fatores probabilísticos” e não “determinantes” como as análises de uma empresa terceirizada, que realizou inspeções na estrutura que se rompeu em Brumadinho. Segundo Cavalli, parecer dos engenheiros contratados, datado de setembro do ano passado, indicou que o fator de segurança da barragem da Mina do Córrego do Feijão era adequado. Das 17 recomendações listadas pelos técnicos, oito já haviam sido concluídas e nove estavam em andamento.

Outro lado

Em nota, a Vale informou que todas as estruturas citadas receberam laudos de estabilidade e segurança emitidos por auditorias externas e independentes. “O documento citado é um estudo realizado com base em metodologia interna, na qual os geotécnicos da própria Vale reavaliam as estruturas já certificadas por auditorias externas como seguras e estáveis. Essa metodologia utiliza um padrão mais rígido que a legislação nacional e internacional vigente e, por isso, tem por objetivo prospectar medidas adicionais de prevenção”, diz a empresa.

Diretores da mineradora também abordaram o assunto ontem (12) durante coletiva de imprensa onde contestaram algumas hipóteses para o rompimento. O diretor de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão, Lucio Cavalli, afirmou que estava em desenvolvimento um modelo probabilístico, segundo a (certificação internacional) ISO 31000.

“Para sermos mais rigorosos ainda com as nossas estruturas e para garantirmos que as nossas estruturas estavam em condições. O foco é fazer um prognóstico para adotarmos ações preventivas nas nossas barragens”, disse Lucio Cavalli.

De acordo com o diretor da Vale, a expressão “zona de atenção” não representan risco iminente. “Significa que devemos cumprir as recomendações feitas”, disse Cavalli.

Para o diretor de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani, a legislação brasileira observa a avaliação de risco conforme as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Segundo ele, a administração da empresa não tinha conhecimento das classificações das barragens baseadas nesse modelo probabilístico.

Paralisação

A ação do MPMG teve acolhida da Justiça Estadual que determinou no dia 4 de fevereiro a paralisação das atividades de oito barragens listadas.

Segundo a Vale, com exceção da barragem de Laranjeiras, todas as outras já estavam inativas antes da decisão. A mineradora também afirma que as providencias solicitadas pelo MPMG já estão em andamento.

A barragem de Laranjeiras fica na Mina de Brucutu, a maior da Vale no estado de Minas Gerais. O impacto estimado de sua paralisação é de aproximadamente 30 milhões de toneladas de minério de ferro por ano.

Segundo Luciano Siani, trata-se de uma barragem convencional, que não adota o método a montante, o mesmo que era usado na estrutura da Vale, que se rompeu em Brumadinho (MG) e também na da Samarco que originou a tragédia de Mariana (MG) em 2015.

De acordo com o diretor, por este motivo, a Vale entende que não deveria ser incluída na ação. “A companhia vai tentar conversar com os envolvidos até para esclarecer essa situação e tentar uma solução amigável”, acrescentou Siani.

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(Fonte: Hoje em Dia e Agência Brasil)

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