Polícia investiga confronto com ocupantes de fazenda no Norte de Minas; gerente e advogado da propriedade foram presos

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A Polícia Civil informou nesta sexta-feira (09/03/2018) que investiga se o empresário Leonardo Andrade, ex-secretário de Desenvolvimento Sustentável de Montes Claros tem participação no confronto que deixou um sem-terra baleado e outros cinco feridos na fazenda Norte América, em Capitão Enéas, na quinta-feira (8). O homem atingido por tiro, identificado como Tiago Coimbra, de 32 anos, passou por cirurgia e segue internado. Os outros feridos já foram liberados pela Santa Casa Nossa Senhora da Guia, no município onde foi registrada a ocorrência.

Léo Andrade é apontado pela polícia como o real dono da fazenda, mesmo não tendo o nome registrado em documentos oficiais. “Para a Polícia Civil, ele sempre se apresentou como o proprietário da fazenda. É ele quem exerce este papel, que resolve tudo da fazenda”, afirma o delegado regional, Jurandir Rodrigues.

Leonardo Andrade foi preso no ano de 2016 por suspeita de desvio de verbas públicas. Na época, uma investigação do Ministério Público estadual apontou que o ex-secretário estava envolvido em um esquema de desvios de verbas da Empresa Municipal de Serviços, Obras e Urbanização (Esurb). Ele ficou preso por cerca de um mês e conseguiu um habeas corpus no Superior Tribunal Federal (STF).

O delegado explicou ainda que a fazenda possui outros registros de conflitos entre fazendeiros e sem-terras. “Ali é um palco de vários conflitos agrários. O primeiro foi em abril de 2017 e há um inquérito em curso. Agora, no dia 18 de fevereiro de 2018, houve a invasão na sede e dois dias depois ocorreu uma tentativa de homicídio contra um dos responsáveis pela fazenda. E, nesta quinta (8), mais um conflito”.

Nesta sexta-feira a polícia também confirmou que a gerente da fazenda, Andreia Beatriz da Silva, foi presa em flagrante durante o processo de autos dos outros oito presos, incluindo o advogado da propriedade.

Conflito agrário deixou seis pessoas feridas (Foto: Reprodução/Estado de Minas)

Ocorrência registrada ontem

De acordo com a Polícia Militar (PM), o confronto começou quando um grupo chegou em um caminhão baú e desceu do veículo atirando contra os ocupantes da fazenda, que revidaram o ataque. Seis funcionários da propriedade foram presos na noite quinta-feira, mas a gerente da propriedade, Andreia Beatriz, afirma que eles foram confundidos com os responsáveis pelas agressões. Segundo ela, eles foram enviados à propriedade para pegar ração e acabaram sendo presos.

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil. “As informações preliminares são de que as pessoas armadas, que chegaram no caminhão-baú, são ligadas aos proprietários da fazenda e seriam jagunços contratados por eles. Sete testemunhas, vítimas e os conduzidos ainda serão ouvidos”, informou o delegado Jurandir Barbosa.

De acordo com ele, o caminhão era fretado pelos donos e usado regularmente para fazer a retirada de objetos dos proprietários e produtos agrícolas produzidos no local. “O motorista disse que tinha se deslocado para a fazenda com essa finalidade, mas há informações de que haveria várias pessoas armadas e encapuzadas no compartimento de carga”, explicou.

Equipes da Delegacia Especializada em Conflitos Agrários e do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa foram encaminhados à região para dar suporte nas investigações.

Feridos no confronto

O baleado é o coordenador da Frente Nacional de Luta, Tiago Coimbra, de 32 anos. Ele foi atingido na perna e no tórax. Tiago foi levado inicialmente ao Hospital e Santa Casa Nossa Senhora da Guia, em Capitão Enéas e, em seguida, encaminhado para Montes Claros. Segundo a assessoria da Unidade, ele passou por cirurgia e respira com ajuda de aparelhos. Os outros cinco feridos foram atendidos no hospital de Capitão Enéas e já foram liberados.

Dois adolescentes de 15 e 17 anos foram agredidos com coronhadas. As vítimas contaram que os homens chegaram no local atirando. “Eles desceram atirando nos sem-terra. Nós estávamos em casa, corremos e escondemos debaixo da cama. Eles foram lá, abriram a porta e bateram em nós”, disse uma das vítimas. Ainda segundo eles, os atiradores queimaram os documentos dos ocupantes da fazenda e reviraram os cômodos da casa.

“A hora que eu saí, fui pega pelo cabelo. Me amarrou e começou a bater na minha cabeça com um revólver”, afirmou outra vítima.

Ocupação e conflito

Cerca de 120 sem terras, integrantes do Movimento Frente Nacional de Luta (FNL), participaram da invasão na Fazenda Norte América. Logo após o início da ocupação, os administradores da propriedade retiraram animais feridos, entre cavalos de raça e vacas leiteiras; eles estavam com cortes na pele e dermatites. Os animais ficaram sob os cuidados de veterinários em Montes Claros e não há confirmação oficial da polícia se os ferimentos são posteriores à ocupação.

As ocupações e conflitos na propriedade já ocorreram em outros momentos. Em janeiro de 2017, o movimento invadiu a propriedade sob a alegação que as terras foram adquiridas em um leilão e o valor não foi pago, e que apenas parte das terras era utilizada para a criação de cavalos de raça. Ainda segundo o movimento, a fazenda é improdutiva.

Em abril de 2017, três integrantes do MST foram baleados na Fazenda Norte América em consequência de um conflito de terra. Na época, o MST disse que eles foram vítimas de uma emboscada e que foram recebidos a tiros ao chegarem na sede da fazenda, onde participariam de uma reunião. A dona da fazenda informou que era falsa a informação veiculada sobre atos violentos supostamente praticados pela administração do local.

Um mês após o ocorrido, as polícias Civil e Militar apreenderam armas, munições e uma caminhonete durante cumprimento de dois mandados de busca e apreensão na Fazenda Norte América e na Fazenda Canoas, em Montes Claros. Na ocasião, o advogado da Fazenda Norte América lamentou o cumprimento de mandado de busca e apreensão no local devido ao conflito que ocorre entre a propriedade e integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST).

O que diz o Incra

Em nota, o Instituto informou que a Fazenda Norte América encontra-se hipotecada pelo Banco do Brasil, e que o imóvel esteve em negociação entre 2002 e 2004, mas não houve concordância do proprietário em relação aos valores ofertados pelo Incra e, por isso, não foi possível continuar a negociação e o processo foi arquivado.

Ainda segundo o Incra, em maio de 2017, um advogado representando “um possível proprietário(a) da fazenda” protocolou pedido na Superintendência Regional do Incra em Minas Gerais consultando se a autarquia tinha interesse na aquisição do imóvel, em vista às ocupações. No mesmo mês, o Incra respondeu ao pedido, solicitando a documentação legal, comprovando a identidade do proprietário para analisar o pedido. Desde então, o Incra aguarda a apresentação da documentação exigida por lei, segundo a nota.

“Com relação ao conflito na área, a Ouvidoria Agrária Regional e Nacional do Incra também acompanham o caso. Um representante deverá se deslocar ao local para auxiliar na mediação do conflito”.

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(Fonte: G1 Grande Minas)

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