Coco macaúba garante renda a mais de 400 famílias no Norte de Minas

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No Norte de Minas Gerais, um pequeno fruto, mas com enorme potencial econômico, ganha cada vez mais espaço como alternativa de renda para pequenos agricultores familiares. Encontrada em todo o país e abundante no estado, a macaúba é uma palmeira nativa que tem “mil e uma utilidades”: o óleo do seu fruto – um pequeno coco – serve de matéria-prima para a produção de biodiesel e bioquerosene, mas todo o coco pode ser reaproveitado na fabricação de diversos produtos.

A descoberta de uma extensa mata nativa, com milhões de pés da palmeira, foi crucial para o desenvolvimento da comunidade Riacho D’Antas, na zona rural de Montes Claros, que abrange também os municípios de Brasília de Minas, Coração de Jesus e Mirabela.

Hoje, o fruto sustenta 400 famílias na região que vivem da extração e produção de sabão em barra, óleo de amêndoa, óleo de polpa, cosméticos, ração para alimentação animal, óleo para produção de biodiesel, entre outros. No local, são extraídas e beneficiadas cerca de 450 toneladas anuais.

“Há alguns anos, estávamos brigando na Justiça com grandes agricultores daqui, que estavam secando o Rio Riachão para a irrigação de feijão. Andando ao longo das margens, percebemos a existência dessas palmeiras, e passamos a buscar alternativas para investir no coco. Salvamos o rio e ainda descobrimos uma fonte de renda para as famílias locais.”, diz João Elias Fonseca, gerente administrativo da Cooperativa de Agricultores Familiares e Agroextrativista Ambiental do Vale do Riachão (Cooper Riachão).

Em 2015, a cooperativa faturou R$ 260 mil somente com a venda dos produtos do coco da macaúba. Instalada com recursos viabilizados pelo Governo de Minas Gerais, a Unidade de Beneficiamento do coco macaúba em Montes Claros aproveita tudo do fruto, da casca à castanha em seu interior.

Dali, os produtos são comercializados na região e até em outros estados. Recentemente, a unidade conquistou a certificação ambiental da Roundtable on Sustainable Biomaterials (RSB). O processo atesta que os biomateriais são éticos, sustentáveis e de origem credível.

“A Cooperativa Central do Cerrado compra o nosso sabão em barra e em pó e vende no Mercado de Pinheiros, em São Paulo”, conta Fonseca. “Também vendemos parte da nossa produção de óleo para a Petrobras e temos outros compradores importantes em São Paulo, Distrito Federal e Brasília”, completa.

Segundo o diretor de Captação, Qualificação e Inclusão Regional do Sistema Sedinor/Idene, Davidson Dantas, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e do Norte de Minas (Sedinor) apoiou a instalação do Consórcio Macaúba Sustentável, uma rede de municípios e produtores engajados no fortalecimento de empreendimentos como o da Cooper Riachão. A secretaria faz parte do conselho do consórcio, que busca fortalecer a atividade.

“Temos viabilizado parcerias que envolvem tanto a comercialização quanto o desenvolvimento da atividade na região. Nosso papel é facilitar a interlocução dos atores locais com as políticas públicas e os agentes governamentais, em âmbito municipal, estadual e federal”, ressalta Dantas.

O gerente administrativo da Cooper Riachão, João Fonseca, aponta a melhoria na qualidade de vida das famílias que vivem da extração do coco macaúba. “Toda a nossa produção tem destino. Não temos produtos em estoque hoje, e o trabalho é para o ano todo. A macaúba é uma das principais fontes de renda para as famílias, e tem evitado inclusive o êxodo rural dos jovens na região”, comemora.

Moradora da zona rural de Montes Claros, Edilene Martins, 34 anos, complementa sua renda com a extração da macaúba há cinco anos. “No início, eram poucos produtos derivados e eles não tinham a qualidade de hoje. A cooperativa busca o coco na minha casa e leva para a fábrica. Essa renda me ajuda o ano inteiro”, relata.

Macaúba é uma palmeira nativa que tem várias utilidades (José Carlos Paiva/Agência Minas)

Fomento à cadeia produtiva

A utilização da macaúba como fonte produtora de energia renovável é regulamentada pela Lei nº 19.485/2011 – Pró-Macaúba. A norma instituiu a política estadual de incentivo ao cultivo, à extração, à comercialização, ao consumo e à transformação da macaúba e das demais palmeiras oleaginosas.

A coordenação da execução da política cabe à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), que tem como principais competências incentivar o plantio, a comercialização e a industrialização da macaúba e das demais palmeiras oleaginosas, estimular o beneficiamento dos produtos, coprodutos e derivados, entre outras.

Como parte das ações desenvolvidas, a secretaria celebrou, recentemente, um convênio com a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário, do Governo Federal, para fomentar a cadeia produtiva de oleaginosas como a macaúba.

“Vamos montar 35 unidades técnicas de demonstração em propriedades de agricultores familiares em todo o estado, para incentivar o plantio da macaúba pelos produtores rurais”, explica o assessor técnico da Seapa, Kamil Cheab.

Para tanto, serão investidos R$ 869.515,00. “O projeto está dividido em cinco fases. Agora, estamos na primeira, que são os estudos para reconhecer as áreas com maior potencial produtivo, considerando inclusive aspectos logísticos. Depois será feita a escolha dos produtores que vão receber as unidades técnicas demonstrativas e todas as mudas e insumos necessários”, destaca Cheab.

A Emater-MG será parceira no projeto, realizando a capacitação dos técnicos e dos produtores para o manejo da cultura e também para o aproveitamento dos subprodutos do fruto. Ao final, será elaborado um estudo de viabilidade econômica da implantação da cadeia produtiva da macaúba no estado. A expectativa é que o projeto seja concluído em dois anos.

Boas práticas de produção

Em Mirabela, um projeto realizado pela Fundação de Educação para o Trabalho de Minas Gerais (Utramig), em parceria com a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e o Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene) possibilitou a instalação de uma unidade produtiva e a capacitação da comunidade local para a exploração sustentável da macaúba.

A unidade realiza o beneficiamento do fruto, cujo óleo é utilizado na fabricação do biodiesel, e, a partir de seu resíduo, produz ainda uma ração com alto valor proteico para alimentação de pequenos animais, como galinhas caipiras e suínos, e também sabão em pó, em barra e o sabonete do coco macaúba.

O coordenador do projeto na Utramig, Fernando Madeira, relata que estão sendo feitos diversos cursos na região para o aproveitamento do coco na culinária, já que a macaúba é rica em nutrientes, fibras e betacaroteno. “Estamos ensinando a população local a produzir sorvetes, picolés, bolos, trufas e barrinhas de cereal. Na unidade de Mirabela, estamos produzindo ovos e trufas para a Páscoa”, conta Madeira.

Famílias sobrevivem com exploração do Coco Macaúba (Foto: Divulgação/Codevasf)

Famílias sobrevivem com exploração do Coco Macaúba (Foto: Divulgação/Codevasf)

Pasta crioula de Coco Macaúba (Foto: Divulgação/Codevasf)

Sabão de Coco Macaúba (Foto: Divulgação/Codevasf)

Óleo de Coco Macaúba (Foto: Divulgação/Codevasf)

Sabonete de Coco Macaúba (Foto: Divulgação/Codevasf)

Sabão de Coco Macaúba (Foto: Divulgação/Codevasf)

(Fonte: Agência Minas)

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