Detentos mineiros transformam bicicletas fora de uso em cadeiras de rodas

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Bicicletas transformadas em cadeiras de rodas. Brinquedos infantis revitalizados. Roupas de postos de saúde lavadas e passadas. Uniformes produzidos em escala industrial. Essas são algumas das atividades realizadas no Presídio de Itajubá, no Território Sul.

A lista não para de crescer e conta com a dedicação de presos, que trouxeram suas experiências profissionais de fora ou aprenderam o ofício em cursos oferecidos na própria unidade.

A dupla Donizeti e Damião é sinônimo de esperança e alegria para adultos e crianças da região. Eles já transformaram mais de 300 bicicletas em cadeiras de rodas. As bikes foram apreendidas por roubo ou uso no tráfico de drogas e estavam na Delegacia de Itajubá.

Os detentos ainda fizeram renascer brinquedos quebrados de praças públicas e escolas. Os dois são responsáveis também pela manutenção geral do presídio e atuam nas áreas de hidráulica, elétrica, pintura, máquinas e alvenaria.

O projeto das cadeiras de rodas começou há seis meses e tem o apoio da Helibras, empresa brasileira fabricante de helicópteros, instalada no município. Ela doa as rodas menores, o aro para locomoção, o estofamento e faz a pintura da estrutura das cadeiras. A empresa ainda doou uma máquina de solda profissional para a oficina do presídio.

Damião Pereira dos Santos, de 41 anos, conta que também faz outras reformas em cadeiras de rodas e já participou de algumas entregas. “É um momento emocionante, fico muito feliz. É gratificante poder ajudar as pessoas com o meu trabalho.”

Para o diretor de Atendimento e Ressocialização, Leandro Rodrigues Palma, o projeto das cadeiras de rodas ocupa um lugar especial entre todas as atividades exercidas pelos detentos. “Fiquei impressionado com um documento enviado pela ONG Caravelas, em que relatava problemas sociais na região e pedia ajuda. A partir disso, foram surgindo ideias para auxiliarmos de alguma forma.”

Os uniformes dos detentos são produzidos integralmente na oficina (Omar Freire/Imprensa MG)

Diversidade

A relação do presídio com a comunidade envolve também alimentação e lavanderia. Semanalmente, cerca de 200 peças de roupas de cama são entregues nos postos de saúde de Itajubá. Dois detentos operam as máquinas de lavar e passar.

Na câmara de preparo e pesagem de alimentos trabalham dois presos que cuidam de lavar, descascar, cortar e embalar verduras, legumes e frutas para a cozinha do presídio. Para o restaurante popular da cidade são enviados semanalmente quase 350 quilos de alimentos.

A alimentação dos presos e servidores é a mesma, sendo preparada por nove detentos. Produção e controle de qualidade ficam por conta de uma nutricionista e uma chef de cozinha.

“Eles são extremamente cuidadosos e competentes, sabem de suas responsabilidades”, garante a nutricionista Vanessa Nunes de Oliveira. Visitas inesperadas de inspeção fazem parte da programação do fim de semana de Vanessa, que cuida da alimentação do presídio há três anos. “Nunca fui surpreendida com qualquer tipo de erro ou descuido nas quatro refeições servidas diariamente”, diz.

Produção de cadeiras de rodas no presídio (Foto: Omar Freire/Imprensa MG)

Bobinas

A sigla da nova secretaria de Estado, Seap, já é aplicada nos uniformes dos detentos, fabricados na confecção que funciona no Presídio de Itajubá. São entregues, semanalmente, 600 calças femininas e 600 camisas masculinas, com 19 presos trabalhando de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.

As peças são produzidas integralmente na oficina a partir de bobinas de tecidos. Tudo é cuidadosamente marcado e cortado pelo detento Bruno Fernandes Lamin, de 32 anos.

A experiência de Fernandes, que esteve por oito anos em uma confecção na cidade de Virgínia, em Minas Gerais, serviu para que atuasse como um dos principais homens na produção dos uniformes. Ele treinou 25 colegas. Alguns deles tiveram a liberdade e montaram o próprio negócio.

“É um prazer ensinar (conta Bruno enquanto corta uma pilha de tecidos), ver que os colegas se esforçam. Em qualquer cidade, existe uma confecção. Então, não falta trabalho. Basta querer!”

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(Agência Minas)

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