Filhos de pais separados: como lidar com essa situação? – Nilberto Antônio

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Quando um casal constitui família, os filhos tendem a ser um projeto comum a ambos. Sejam planejados ou não, a presença deles é o que existe de mais permanente entre duas pessoas. Mesmo que os pais se separem, continuam sendo pais. A relação pode chegar ao fim, mas a relação de parentalidade não. Cabe esclarecer que o conceito de parentalidade vem sendo utilizado para descrever o conjunto de atividades desempenhadas pelos adultos de referência da criança no seu papel de assegurar a sua sobrevivência e o seu desenvolvimento físico, social e psíquico saudável.

No entanto, com o fracasso da relação do casal, e toda dor que isso representa, o lugar dos filhos fica redimensionado. Como compartilhar um projeto comum de paternidade diante das dificuldades da dupla mãe e pai? Muitos pais se questionam se poderão continuar sendo bons pais de filhos de pessoas com quem não têm mais diálogo, por exemplo. Os filhos podem aparecer como uma constante lembrança das dificuldades. Lembrança de sonhos que não vingaram, ou simplesmente do próprio cônjuge (“ele é a cara do pai”, ou “tem o gênio ruim da mãe”, etc). A dor da separação, do fim de um projeto de vida comum, a sensação de fracasso, o fim da idealização das relações eternas, toda essa experiência tende a ser uma das mais dolorosas na vida adulta. Assemelha-se ao luto por perda de um ente querido e requer um tempo variável para ser elaborado.

A experiência da criança e do adolescente é muito específica. Sentimentos fortes e ambíguos podem aparecem num misto de raiva, culpa e medo. Raiva pelo fracasso dos pais a quem eles não se acham capazes de superar como modelo, culpa por desejos inconscientes de ter cada pai só para si (do ciúme natural que se sente do casal), medo das transformações que essa situação acarretará (“quem vai morar com quem?”, “terei madastra/padastro?”, “como será minha rotina?”, “verei meus pais tanto quanto antes?”, etc) e, eventualmente, sentirão alívio quando a situação se mostrava perigosa ou violenta. Mas mesmo o fim de uma situação ruim é causadora de ansiedade por ter rumos desconhecidos. Como podemos evitar que os filhos sofram além do necessário numa situação por si só muito dolorosa?

Primeiro, tendo em mente que antes de serem filhos de fulano e sicrana eles são pessoas únicas e incomparáveis. Colocá-los para arbitrar desavenças, julgando quem está certo e quem está errado, fazer comparações depreciativas com um dos pais, usá-los como pombos-correio ou espiões são formas de abuso psicológico. Por quê? Porque ao sucumbir à tentação de descarregar as raivas e frustrações neles, usando-os, esse pai, essa mãe estará saindo da sua posição de figura paterna/materna, que tem por funções principais proteger e cuidar, e estará fazendo dos filhos meros objetos.

O grande problema é usar os filhos como objetos para tentar atingir o ex-cônjuge de algum modo é que durante um tempo eles podem, por pena de si ou dos pais, acabar tomando partido, mas ao longo dos anos e com o afastamento da situação, tendem a ver e ter seus próprios julgamentos. A manipulação das opiniões dos filhos pode ser feita enquanto são pequenos e influenciáveis, mas tende a se voltar contra quem os influenciou, quando eles percebem que foram usados. Mesmo que um dos pais tenha razão diante de uma disputa, o fato de não terem protegido os filhos da mesma faz com que, muitas vezes, as crianças se revoltem. Além disso, faz-se necessário esclarecer que ao fazer do filho um objeto para atingir o ex-cônjuge, manipulando-o para que o filho se afaste do mesmo, pode incorrer no que chamamos de Alienação Parental. Esta prática é tipificada como crime pela Lei 12.318 de agosto de 2010. Portanto, passível de punição.

Contudo, o drama da separação pode ser amenizado se os filhos forem percebidos como pessoas que não podem escolher entre os pais sem sofrer danos com isso. O ser humano tem capacidade de enfrentar imensos desafios e sair engrandecido dessas experiências. Foi-se o tempo que o filho de pais separados era criança problema, mesmo porque hoje em dia isto é mais do que comum. No entanto, situações de crise revelam a natureza das relações dentro de uma família, em que começam a aparecer as rupturas que antes podiam passar desapercebidas. Se os pais não estão conseguindo manter suas dificuldades no âmbito do casal, podem a qualquer momento procurar ajuda especializada, poupando os filhos de um sofrimento a mais. Separações envolvendo filhos são dramáticas, mas não necessariamente traumáticas. A família dos anúncios de margarina não existe. A construção do grupo familiar demanda tempo e enorme dedicação.

Nilberto Antônio

Nilberto Antônio Gonçalves, psicólogo clínico com ênfase em atendimento de crianças especiais. Trabalha com Orientação Profissional. Psicólogo do Projeto Responsabilidade na Infância e Adolescência – RIA do Centro Social Mali Martin. Atua voluntariamente na Associação Amar e Renascer – Aamar (Instituição para tratamento de dependentes químicos) de Itamarandiba.

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E-mail: nilbertog@ymail.com ou nilbertoantonio@bol.com.br
Telefone: (38) 9 9139-6023

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