Febre amarela: Minas Gerais não estava preparada – Alexandre Sylvio

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O Brasil é um país dinâmico em vários aspectos de seu clima, fauna, flora, microrganismos e diversos outros fatores. Por conta disto, tudo ocorre de forma muito rápida e dinâmica que envolve o crescimento das plantas, o desenvolvimento dos animais e dos microrganismos. Todos estão integrados e em equilíbrio dinâmico onde, periodicamente, alguns fatores são alterados causando uma mudança neste equilíbrio.

Podemos observar isto facilmente através dos surtos de Dengue, Zika, Chincungunya e outras doenças que deixam o Brasil de cabelos em pé. Mas, são tantas variáveis que fica difícil identificar as causas que potencializam as mudanças e o atual surto de febre amarela é uma delas. Minas Gerais é considerada área de transição e de risco. Por conta disto, obrigatoriamente as crianças são vacinadas no primeiro ano de vida e aos dez anos. De modo geral, há décadas não existia uma preocupação direta com a doença no Estado, mas agora isto mudou. O vírus da febre amarela infecta o macaco na mata tendo como vetor os mosquitos silvestres como o Haemagogus. Na mata, através do processo de seleção natural, os macacos mais frágeis e susceptíveis morrem com a doença e os resistentes sobrevivem.

Estes mosquitos raramente saem das matas para se alimentar do sangue humano, mas no ano passado alguma coisa ocorreu que potencializou a ação do vírus nestes animais e que está levando a morte um número relativamente alto dos primatas. Outro aspecto raro foi à saída do mosquito das matas para infectar o homem, principalmente do meio rural, onde vivem mais próximos das matas e florestas.

A área de detecção de macacos mortos e de incidência da doença também surpreende devido a sua extensão, atingindo além de Minas Gerais, o Espírito Santo e São Paulo. Até o momento são dezenas de pessoas mortas pela doença e outras centenas doentes com gravidade. O primeiro passo é a vacinação de toda a população visando reduzir os casos de óbito, doentes graves e o seu avanço para outras áreas. O segundo será entender onde este desequilíbrio começou e porque evoluiu de forma rápida por uma área de grande extensão. Entendendo o processo teremos mais chances de evitar que novos surtos aconteçam, inclusive de outras doenças. Algumas pessoas, desinformadas e por medo de adquirir a doença estão atacando os macacos eliminando-os, pois consideram os primatas agentes transmissores, fato que não procede. Esta atitude de eliminação dos animais é a pior coisa que poderia acontecer pois o equilíbrio ambiental entre o vírus, o mosquito, os animais e o meio ambiente estará perigosamente ameaçado. A eliminação do macaco, fonte de alimento dos mosquitos silvestres, forçará estes insetos sugadores a buscar novas fontes de alimentos, provavelmente, o homem. A partir deste momento teremos verdadeiramente um problema grave em mãos considerando o grande número de vírus que estes insetos poderiam difundir. Então, vamos nos vacinar e preservar a natureza, pois este equilíbrio é fundamental para a nossa sobrevivência.

Quem é Alexandre Sylvio Vieira da Costa?



– Nascido na cidade de Niterói, RJ;
– Engenheiro Agrônomo Formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;
– Mestre em Produção Vegetal pela Embrapa-Agrobiologia/Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro;
– Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa;
– Pós doutorado em Geociências pela Universidade Federal de Minas Gerais;
– Foi Coordenador Adjunto da Câmara Especializada de Agronomia e Coordenador da
Comissão Técnica de Meio Ambiente do CREA/Minas;
– Foi Presidente da Câmara Técnica de eventos Críticos do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce;
– Atualmente, professor Adjunto dos cursos de Engenharia da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus Teófilo Otoni;

– Blog: asylvio.blogspot.com.br
– E-mail: alexandre.costa@ufvjm.edu.br

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