Minas Novas sediará o Primeiro Encontro de flautas do Jequitinhonha

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A ASPOQUI – Associação quilombola de Quilombo – realizará nos próximos dias 05 e 06 de novembro o I Encontro de flautas do Jequitinhonha, com enfoque especial para as bandas de taquara, importante manifestação do Vale do Jequitinhonha.

Localizada na zona rural do município de Minas Novas, a comunidade de Quilombo sediará o evento, que terá, além da apresentação de diversos grupos tradicionais da região, oficinas e demonstração de construção de instrumentos característicos das bandas de taquara, como as caixas e flautas, além da confecção de caretas, máscaras utilizadas pelos grupos. O público ainda poderá levar para casa produtos da feira de artesanato e agricultura familiar produzidos pelas comunidades do entorno, aprender como se faz a extração da cera de abelha (matéria prima que compõe a fabricação de flautas, caixas e máscaras), conhecer e aprender danças tradicionais da região e participar de rodas de conversa sobre patrimônio cultural e direito quilombola. Atividades para crianças estarão a cargo dos brincantes Adelsin e Viviane Fortes, que também foram convidados para um encontro com educadores e famílias para falar do alimento na infância.

Será a primeira vez em que as sete bandas de taquara dos municípios de Minas Novas, Capelinha e Angelândia estarão juntas. Além de se apresentarem durante todo o Encontro, farão parte de uma grande roda para celebrar o momento na última atividade programada.

Banda de taquara de Santo Antônio do Fanado (Foto: Daniel Magalhães/Divulgação)

PROGRAMAÇÃO GERAL:

SÁBADO 5/11

8:00 Café da manhã de boas vindas

9:00 Apresentação musical
Banda de taquara de Santiago/Quilombo

9:30-11:00 Oficina de confecção de flautas (canudos)
Manoel Moreira (Quilombo), Simeão Rodrigues (Santiago)

11:00-12:00 Demonstração de confecção de caixa
Mestre Antônio Bastião (Minas Novas)

13:30 Apresentação musical
Banda de Taquara de Santo Antônio dos Moreiras

14:00 – 16:00 Vivência: reflexões sobre alimentação e o brincar na infância
(direcionado a familiares e educadores)
Adelsin/Viviane Fortes (brincantes)

14:00 – 14:30 Manejo de cera de abelha (usada na confecção de flautas e outros fins)
Tião Chaves (Santo Antônio dos Moreiras)

14:30 – 16:30 Oficina de confecção de flautas (canudos)
Antônio Luís (Santo Antônio dos Moreiras), José Francisco (Santo Antônio dos Moreiras)

14:30 – 16:30 Oficina de confecção de careta (máscaras usadas nas bandas de taquara)
Antônio Rodrigues Pereira (Ramos)
Juarez Pacheco (Ramos)

16:30 – 18:00 Oficina de danças com o Grupo de danças regionais do Buracão/Tibuna

18:00 Apresentação musical
Banda de taquara Antiga Geração e Boi Bumba

19:30 Leilão

20:30 Baile regional

DOMINGO – 6/11

8:00 – 09:30 Oficina de confecção de flautas (canudos)
Teresino dos Anjos (Sapé), Gabriel Moreira (Sapé), Geraldo Lopes

9:00 – 11:00 Vivência de brincadeiras (direcionado para crianças)
Adelsin/Viviane Fortes (Brincantes)

09:30 Apresentação musical
Banda de taquara da Bem Posta

10:00 – 11:30 Roda de conversa: Bandas de taquara, patrimônio cultural e direito quilombola
Rafael Barros (Ministério Público de Minas Gerais)
Alessandro Borges (Presidente da Coquivale – Comissão das comunidades quilombolas do Médio Jequitinhonha)
Maria dos Anjos Lopes dos Santos Soares (Aspoqui – Associação Quilombola de Quilombo)
Daniel de Lima Magalhães (Coordenador do I Encontro de Flautas do Jequitinhonha)

11:30 Apresentação musical
Banda de taquara do Sapé/Timirim

13:00 Apresentações musicais
Banda de taquara de Santo Antônio do Fanado
Banda de taquara da Chapadinha/São Benedito

14:00 Roda de conversa: Bandas de taquara – passado, presente e futuro
Representantes das bandas de taquara presentes

15:00 Apresentações musicais
Banda de taquara de Santiago/Quilombo
Banda de taquara de Santo Antônio dos Moreiras
Banda de taquara Antiga Geração

16:30 Homenagem a mestres e tocadores

17:00 Grande roda com as bandas de taquara

Banda de taquara de Santiago-Quilombo (Foto: Daniel Magalhães/Divulgação)

INFORMAÇÕES SOBRE A PROGRAMAÇÃO, HOSPEDAGENS E ALIMENTAÇÃO:

e-mail: flautasdojequitinhonha@gmail.com

rede social/página do evento /contatos via mensagem:
https://www.facebook.com/flautasdojequitinhonha

Telefones de contato: (31)999727206 / (33)987181707

ATIVIDADES PRÉ-EVENTO

Oficina de confecção de flautas

Dia 3/11/2016 – manhã (direcionado aos alunos da escola)
Local: Escola Municipal Padre Sacramento (Santiago, Minas Novas/MG)

Dia 3/11/2016 – tarde (direcionado aos alunos da escola)
Local: EFASET (Setubinha/MG)

Passeio cultural

Está programada para o dia 4/11/2016, uma visita às comunidades de Santo Antônio dos Moreiras e Alto dos Bois, ambas em Angelândia, além de Campo Buriti, em Minas Novas, para os participantes do Encontro que quiserem chegar com antecedência e conhecerem um pouco mais da região. Em Santo Antônio dos Moreiras, será feita uma visita à oficina de instrumentos musicais e artesanato de Tião Chaves, um dos mais reconhecidos fabricantes de instrumentos do município de Angelândia. A visita ao sítio histórico e arqueológico de Alto dos Bois será uma oportunidade para conhecer a sede da antiga fazenda que remonta ao século XVIII e que serviu como pouso de tropeiros, quartel militar e refúgio indígena. Há no local um antigo cemitério e um curso d’água, com cachoeira e poço para banho. Em Campo Buriti, a visita terá foco na atividade ceramista, sendo esta comunidade um dos principais pólos de produção da conhecida cerâmica do Jequitinhonha.

Esta atividade tem custo de R$25,00 (com almoço e lanche).
Transporte não incluído

SOBRE AS BANDAS DE TAQUARA DO JEQUITINHONHA:

Na zona rural próxima às cidades de Capelinha, Minas Novas, Angelândia e Setubinha, no Alto Jequitinhonha, tornou-se popular a figura do ‘canudeiro’, tocando uma flauta chamada ‘canudo’. Este é um nome regional que se refere à mesma flauta conhecida por ‘gaita’ em outras partes do Norte de Minas, em Sergipe e na Bahia. Participa o canudeiro de conjuntos musicais centenários, conhecidos por ‘bandas de taquara’, um nome que revela ao mesmo tempo o material de que são feitos os canudos e a proeminência que eles têm no grupo. Atualmente existem sete bandas de taquara em atividade, em comunidades rurais: Bem Posta e Santiago/Quilombo, no município de Minas Novas; Santo Antônio do Fanado e Chapadinha, no município de Capelinha; Santo Antônio dos Moreiras (onde há duas) e Sapé/Timirim, no município de Angelândia. Ainda neste último município, há tocadores na comunidade de São Benedito que se juntam aos de Chapadinha quando são chamados.

Uma das características fundamentais destes grupos é a presença de uma gama definida de instrumentos musicais, tendo por base duas flautas, algumas caixas (três ou mais), zabumba (um ou mais), pandeiros e reco-recos. Algumas bandas incluem um instrumento harmônico, ocasionalmente, como o acordeon, a viola ou o cavaquinho. Chocalho de latinha, matraca e outras percussões pequenas são também ocasionalmente vistos. As bandas de taquara têm uma média de 12 a 15 integrantes, podendo chegar a 20 tocadores ou mais, em alguns casos.

Entre as bandas, há algumas bem antigas, contando certamente com mais de 100 anos de atividade contínua, como a da Bem Posta e a de Santo Antônio dos Moreiras. A maioria delas, porém, é mais recente, apesar de formadas por tocadores experientes, que participaram de grupos antigos, já extintos. É o caso das marujadas das comunidades de Sapé/Timirim e Chapadinha, criadas por seus líderes há cerca de 15 anos. A criação de novas bandas continua em pleno vigor, tendo a última marujada surgido há 6 anos, na comunidade de Santo Antônio do Fanado, município de Capelinha. Na realidade, o que houve foi a retomada de um antigo grupo, desativado há mais de 40 anos.

As bandas de taquara, enquanto ‘bandas de música’, são requisitadas principalmente para as domingadas e as festas de santo, sendo as responsáveis pelos levantamentos de mastro, procissões, alvoradas, acompanhamento de danças, leilões e outros eventos. Apesar das incertezas quanto à origem destas bandas ou ‘marujadas’ (outra denominação pelos quais são conhecidos estes grupos), pode-se dizer que elas são peculiares a esta região, com características marcantes, que as distinguem de outras marujadas mineiras (há delas em várias partes do Estado) e de formações que têm presença de flautas e caixas (como os tocadores de pífanos do Serro e Minas Novas ou as folias do Baixo Jequitinhonha e das demais bandas de pífanos espalhados por todo o Nordeste brasileiro). Tal singularidade confere a este patrimônio uma grande relevância que deveria ser traduzida em ações de salvaguarda compatíveis com seu valor cultural.

Texto de Daniel de Lima Magalhães, autor do livro “Canudos, gaitas e pífanos: as flautas do norte de Minas” (2010), entre outras publicações.

Bio – Daniel de Lima Magalhães, pesquisador e idealizador do I Encontro de Flautas do Jequitinhonha

Natural de Belo Horizonte, músico, educador musical, lutier e pesquisador. Graduado em Licenciatura em Música e Mestre em Musicologia, ambos pela UFMG. Vencedor do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do IPHAN, na categoria Salvaguarda de Bens de Natureza Imaterial, com a ação “Flautas tradicionais do Vale do Jequitinhonha”. Autor dos livros “Canudos, gaitas e pífanos: as flautas do norte de Minas” e “Cancioneiro do Jequitinhonha: 160 partituras para flauta”, além da realização de documentários e outras publicações sobre a cultura popular no norte de Minas. Fundador e integrante do grupo musical Cataventoré e integrante do Pipiruí, grupo tradicional de pifeiros de Conceição do Mato Dentro.

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